Um ecossistema empresarial em conformidade só é possível com a inclusão de todos os empreendedores e seus respectivos negócios. O número de empreendedores no Brasil é um dos maiores do mundo: em 2021, somou-se 14 milhões (7ª colocação global) com negócios de mais de 3,5 anos, segundo pesquisa do Global Entrepreneurship Monitor em 2021, realizada pelo Sebrae e pelo Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade. Além desses dados, tivemos uma nova crescente de abertura de CNPJs após a pandemia, especialmente focado no número de startups (1.067.658, segundo o Mapa de Empresas). Ainda, conforme dados do Sebrae, destaca-se também o número de mulheres empreendedoras: 30 milhões, sendo que 85,6% delas gerenciam sozinhas a sua firma. Embora existam números absolutos volumosos, cabe um recorte para entendermos o ecossistema empresarial brasileiro: em sua grande maioria, são empreendimentos por necessidade (ao contrário dos por oportunidade). Empreendedorismo por necessidade consiste naquele em que a companhia é aberta em razão das situações fácticas terem levado o empreendedor a tomar aquela decisão. São as situações em que o próprio negócio é a única forma visualizada para garantir o sustento, posto em risco por fatores como o desemprego. Em regra, o perfil desse negócio é entendido como Micro/Pequeno, Nascente (ou seja, com menos de 3,5 anos de atividade) e com capital escasso. Ao contrário do por oportunidade (aquele no qual a companhia é aberta por vislumbre de oportunidades de mercado), os empreendedores por necessidade representam um desafio para programas de compliance, justamente por essas empresas serem a maioria, terem perfis bem distintos e não poderem despender tempo e capital em situações que não estão associadas diretamente à atividade principal. O ponto é que, se esses pequenos e médios negócios nascentes não forem inseridos dentro de um contexto de programas de integridade, o prejuízo a longo prazo pode ser irreversível: para as pessoas vítimas de crimes e desvios de condutas, para o ecossistema empresarial como um todo e até mesmo para o país. É ilusão pensar que apenas o consenso entre líderes de determinado setor basta para que aquele nicho fique parcialmente seguro de ruir em razão de práticas antiéticas. Pequenos negócios fazem parte da cadeia produtiva e empregam a maioria da população, sendo responsáveis por seu bem-estar enquanto profissionais e da estabilidade daquele mercado. Apenas resultados positivos podem ser extraídos da inserção dessas micro e pequenas empresas na lógica de programas de conformidade. Do ponto de vista das companhias maiores, colaboradores já poderiam ingressar com a prévia compreensão do funcionamento de programas de integridade e uma nova mentalidade sobre ética, poderia ocorrer uma diminuição de problemas com fornecedores/parceiros, bem como uma reputação positiva (potencialmente reversível em material de divulgação). Isso sem citar os principais beneficiados, as pessoas que trabalham nos respectivos locais (grandes e pequenos), com o combate aos assédios e desvios de conduta no geral. Porém, para avançarmos nessa direção, cada um dos atores envolvidos na implementação e sucesso de um programa de compliance tem sua responsabilidade. Por parte das empresas de grande porte, cabe uma atuação conjunta com fornecedores e parceiros de pequeno e médio porte para que adotem programas de compliance em suas companhias. Não se trata apenas de checklist legal, distribuição de punições ou medidas isoladas: é necessário um processo tanto educativo, quanto de fiscalização, para que haja resultados a longo prazo. Algumas hipóteses de ação, como a abertura do canal de relatos para denúncias partindo de colaboradores de terceiros, disponibilização dos treinamentos sobre ética e compliance internos para essas companhias, bem como um código de conduta ética. Por parte dos profissionais e empresas especializadas em compliance, o caminho passa pela produção de conteúdo acessível (em linguagem e preço). Trata-se de uma abordagem inclusiva desse nicho de mercado, no qual conteúdos do tipo freemium e produtos específicos fazem parte, bem como a simplificação de termos técnicos, produção de manuais acessíveis e com ilustrações. Por fim, no que diz respeito aos pequenos e médios empreendedores, as necessidades consistem no compromisso dos gestores do negócio em atuar em conformidade com as legislações vigentes e do aprimoramento do seu negócio nessa direção. Opções como o Sebrae local, que fornece consultorias com subsídios, é uma opção para diminuição de custos na implementação de processos efetivos em prol da ética. Só existe um caminho para a estruturação de um ambiente empresarial mais ético. E ele passa pela inclusão. Compartilhe nas redes sociais:
Com ESG contabilidade passa a ganhar novos contornos
Mercado vê profissionais como aliados para garantir que as empresas operem de forma responsável. A sustentabilidade é tema atual na agenda das empresas. Por esse motivo, o mercado vê os profissionais contábeis como aliados para garantir que as companhias operem de forma responsável. Os profissionais e empresas, para se adequarem a essa realidade, precisam estar atualizados e atentos a essas questões para manterem seus clientes em desenvolvimento e serem competitivos em longo prazo. Segundo a presidente do Conselho Regional de Contabilidade de Minas Gerais (CRCMG), Suely Maria Marques de Oliveira, a sustentabilidade é uma palavra-chave que reflete a atuação contemporânea dos contadores. “Os profissionais da contabilidade desempenham um importante papel em prol da sociedade e do mundo dos negócios, visando a sustentabilidade, sobretudo econômica”, explica Suely. A presidente afirma que, ao dominar as tendências e práticas ligadas à sustentabilidade empresarial, os profissionais contábeis garantem uma boa colocação de seus clientes no mercado, ao mesmo tempo que aumentam a própria credibilidade. O ESG vem do inglês Environmental, Social and Governance e significa Ambiental, Social e Governança. A sigla refere-se a um conjunto de práticas relacionadas à sustentabilidade, responsabilidade social e boa governança. Cada vez mais, os investidores estão considerando esses fatores na hora de avaliar as organizações. Empresas que não adotam boas práticas de ESG podem enfrentar dificuldades para obter investimentos e se manterem competitivas. Na área contábil, é fundamental que profissionais e empresas adotem uma contabilidade transparente, responsável e de caráter consultivo, que permita avaliar os impactos ambientais e sociais e atender às exigências regulatórias nesse sentido. Ainda não existem certificações específicas de ESG, mas algumas normas internacionais remetem a cada uma das bases: a ambiental, a social e a governança. Todas essas normas precisam integrar o escopo de dados que um contador leva em conta ao cuidar de negócios, pois já são usadas por investidores e grandes organizações como forma de direcionar os esforços econômicos e a criação de práticas institucionais, que muito facilitarão na adequação das exigências do ESG. Os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), desenvolvidos pela Organização das Nações Unidas (ONU), formam um apelo global. Esses objetivos abraçam os eixos ambiental, social, econômico e institucional. Mais do que metas protetoras do planeta, os ODS vão tomando contornos de exigências, ou seja, as práticas ligadas a ESG funcionam como contrapartida às atividades econômicas e são a pavimentação de um caminho que leva as organizações e a sociedade como um todo ao cumprimento de normas sustentáveis. Lorem ipsum dolor sit amet, consectetur adipiscing elit. Ut elit tellus, luctus nec ullamcorper mattis, pulvinar dapibus leo. Política ESG Para aplicar a política ESG na sua rotina de trabalho, o contador deve avaliar as práticas de sustentabilidade ambiental das empresas e incluir tais informações em seus relatórios contábeis. Outra questão importante é zelar pela responsabilidade social das empresas, o que inclui o tratamento de funcionários, fornecedores e comunidade local. O contador pode, ainda, incluir no escopo de compliance alguns parâmetros de governança corporativa das empresas, como a transparência, a prestação de contas e a ética empresarial. O próprio incentivo à compreensão das práticas ESG dentro das organizações, principalmente pelas lideranças, passa a ser uma tarefa de interesse do contador. Ele deve encaminhar as empresas a adotarem as práticas ESG, oferecendo sugestões e ideias para melhorar o desempenho nesses critérios. Para isso, o profissional da contabilidade precisa se capacitar, por meio de treinamentos específicos de ESG. O CRCMG entende a necessidade de fortalecer os profissionais da área e dispõe continuamente de formações gratuitas que abraçam essas tendências e auxiliam o contador, de forma prática, a se atualizar. Fonte: Diário do Comércio Compartilhe nas redes sociais: