Como os padrões psicológicos e vieses influenciam nossas decisões financeiras e comportamentais ao longo do tempo.
A forma como tomamos decisões financeiras e lidamos com desafios ao longo do tempo é profundamente impactada por padrões psicológicos que muitas vezes ocorrem de maneira inconsciente. Esses padrões influenciam a forma como avaliamos o valor de ganhos futuros, como reagimos a informações negativas e como encaramos os riscos, levando-nos a escolhas que nem sempre são as mais vantajosas.
Por exemplo, podemos dar preferência a recompensas imediatas em vez de pensar nos benefícios de longo prazo ou ignorar problemas financeiros na esperança de evitar desconforto emocional. Além disso, tendemos a subestimar a importância de planejar adequadamente para o futuro, seja negligenciando o impacto dos juros compostos ou assumindo compromissos financeiros que não conseguimos manter.
Compreender como essas tendências moldam nosso comportamento é essencial para melhorar nossa capacidade de poupar, investir e tomar decisões mais conscientes que garantam um futuro financeiro sólido.
Viés do Status Quo
O viés do status quo é a tendência das pessoas de manterem o estado atual, mesmo quando a mudança pode ser mais benéfica. Esse comportamento pode levar ao consumo de produtos desnecessários e ser um obstáculo à poupança e aos investimentos. O temor pelo desconhecido e a aversão à perda, combinados com os custos psicológicos de mudança, como o esforço mental e emocional, fazem com que muitos prefiram a segurança de ganhos menores. Esse viés é explorado por algumas empresas, que inscrevem automaticamente funcionários em programas de previdência privada. No entanto, a inércia pode ser prejudicial, resultando em investimentos que perdem para a inflação. Conscientizar-se dessa tendência e tomar medidas proativas para evitar a estagnação são essenciais para garantir um futuro financeiro saudável.
Falácia do Planejamento
A falácia do planejamento é a tendência de subestimar o tempo, esforço e obstáculos necessários para realizar uma tarefa, ignorando imprevistos e dificuldades. Muitas vezes, superestimamos o tempo dos outros e subestimamos o nosso, criando previsões baseadas em cenários imaginados, não em experiências passadas. Esse otimismo exagerado se deve à nossa “edição” das lembranças, menosprezando o impacto de eventos negativos anteriores. Isso é visível em diversos contextos, como dietas, obras, trabalhos escolares e planejamento financeiro, onde menos da metade das pessoas cumpre os prazos previstos. O foco excessivo na tarefa como um todo, sem considerar as etapas específicas, pode desestimular, pois o esforço necessário parece maior e mais desafiador.
Viés do Crescimento Exponencial
A dificuldade em raciocinar com juros compostos leva muitas pessoas a subestimar seus efeitos no longo prazo, resultando na subvalorização dos ganhos futuros. A falta de familiaridade com os cálculos matemáticos envolvidos faz com que muitos projetem retornos de forma linear, abaixo da realidade, o que minimiza a importância de poupar e investir a longo prazo. Essa compreensão limitada do valor do dinheiro no tempo também gera uma preferência por investimentos de curto prazo e, muitas vezes, perda de controle financeiro devido ao rápido e inesperado crescimento das dívidas. Entender o impacto dos juros compostos é essencial para uma gestão financeira eficaz e para aproveitar melhor os ganhos futuros.
Efeito Avestruz
A tendência de ignorar informações negativas, como faturas de cartão de crédito após compras excessivas ou o desempenho ruim de investimentos, é uma forma de evitar o desconforto psicológico. Esse comportamento também se manifesta em situações como postergar a abertura de contas em atraso ou evitar ver o resultado de uma prova feita sem preparação. Ignorar prejuízos pode criar a falsa impressão de que as perdas são menores ou que estamos perdendo menos que os outros. Muitas vezes, essa evasão é inconsciente, aparecendo como esquecimento ou confusão. Para enfrentar essas questões de forma mais eficaz, é recomendável lidar com finanças em momentos de calma e bem-estar, reduzindo a aflição e possibilitando decisões mais racionais.
Viés do Otimismo
O otimismo exagerado leva muitas pessoas a superestimar a probabilidade de eventos positivos e subestimar a de eventos negativos, acreditando que o futuro será melhor do que o passado. Essa visão faz com que se subestimem riscos, evitando comportamentos preventivos, como a análise cuidadosa de produtos financeiros ou a correta diversificação dos investimentos. Muitas vezes, isso resulta na assunção de obrigações financeiras que comprometem toda a renda, deixando bens e pessoas dependentes desprotegidos. Para uma proteção eficaz, é crucial determinar valores suficientes para repor bens ou cobrir despesas em caso de imprevistos. Embora seja importante manter uma visão otimista, é fundamental também se preparar para o pior.
Viés do Presente e Desconto Hiperbólico
A tendência de valorizar mais os eventos presentes do que os futuros, conhecida como escolha intertemporal, afeta as decisões de alocação de recursos ao longo do tempo. Muitas vezes, minimizamos o valor dos ganhos futuros simplesmente porque estão distantes, e a percepção de valor decresce à medida que o tempo de espera aumenta. Isso leva à dificuldade de resistir à gratificação imediata, como consumir chocolate agora enquanto se planeja comer saudável no futuro. Essa crença infundada na capacidade de autocontrole futuro aumenta a propensão a contrair dívidas, pois priorizamos recompensas imediatas. Em economia, o desconto aplicado ao futuro é calculado proporcionalmente ao tempo de espera, refletindo essa preferência por resultados imediatos.
Conclusão
Ao refletirmos sobre a maneira como lidamos com nossas finanças e nosso comportamento ao longo do tempo, percebemos o impacto significativo dessas influências psicológicas que podem desviar nossas escolhas de um caminho mais sustentável.
A busca por gratificação imediata, o desconforto em lidar com questões financeiras delicadas e a propensão a esperar sempre o melhor sem se preparar para os imprevistos podem nos levar a decisões que comprometem tanto nossa estabilidade quanto nosso crescimento financeiro. Ao tomar consciência desses padrões, ganhamos a oportunidade de ajustar nossa abordagem, adotando atitudes mais racionais e equilibradas, que nos permitam focar no longo prazo e garantir segurança para nós e nossos dependentes.Em última análise, ao enfrentarmos essas questões de maneira proativa, conseguimos construir uma base sólida que nos prepara tanto para as oportunidades quanto para os desafios do futuro.
Sobre o autor: Bruno Saffiotti é formado em Engenharia de Produção pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Trabalhou em empresas como Itaú e KPMG nas áreas de gestão de riscos, prevenção à lavagem de dinheiro, auditoria interna, SOx, compliance, due diligence e investigação.
Bruno é certificado como Assessor de Investimentos (AI) pela Ancord; como Correspondente Bancário (FBB 100) pela Febraban; como CFEd (Certified Financial Educator®️) pela Empreender Dinheiro; e como Wealth Planner (WP) pela Tech Finance. Começou a empreender aos 25 anos. Hoje, é sócio em um escritório de serviços financeiros, o Grupo GDI e também em uma empresa de marketing digital, a EXP Media, na qual é um de seus cofundadores. É membro, colunista e professor de finanças na Democratizando.
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