Depois de anos discutindo ética, integridade e cultura corporativa entre profissionais de GRC, uma pergunta incômoda surge com força:
Será que estamos falando com as pessoas certas?
Ou, em outras palavras: será que estamos falando sobre valores para quem já os conhece, já os defende e já está convencido?
É comum ver campanhas de integridade, códigos de ética e comunicações internas sendo planejadas para impressionar o jurídico, o compliance, a auditoria e os conselhos. Mas o verdadeiro público-alvo — o colaborador que está no atendimento, na operação, no chão de fábrica, na logística, no varejo — esse muitas vezes não está nem ouvindo a mensagem.
A mudança de rota começa pela mudança de canal
Hoje, todo colaborador já está inserido em uma cultura digital contínua. Ele consome conteúdo, informação e entretenimento pelos mesmos canais: WhatsApp, Instagram, YouTube, TikTok. E faz isso em ritmo intenso, com linguagem simples, direta e visual.
E nós, profissionais de GRC, insistimos em:
- mandar e-mails longos,
- criar políticas em PDF com 30 páginas,
- convidar para treinamentos formais de 2 horas em dias úteis.
Isso não é só ineficaz. É desconectado da realidade. É um erro estratégico.
Se queremos que a cultura de integridade seja viva, precisamos falar a língua das pessoas. Precisamos ocupar os espaços de atenção que já existem, e não tentar criar novos do zero. Precisamos sair da bolha — e construir pontes reais com quem precisa ouvir a mensagem.
A força dos canais não tradicionais
Não se trata de banalizar o conteúdo. Trata-se de contextualizar a entrega.
✨ Uma política de conflitos de interesse pode virar uma sequência de stories animados no Instagram corporativo.
✨ Um princípio de conduta pode ser explicado em um áudio de 1 minuto no WhatsApp.
✨ Uma dúvida recorrente pode ser esclarecida em um vídeo de 30 segundos, com exemplos reais e linguagem acessível.
✨ Um erro ético pode virar uma história contada com empatia, sem julgamento, e compartilhada em uma newsletter leve e visual.
Quando transformamos a comunicação em experiência, ela deixa de ser uma obrigação e passa a ser parte da cultura.
O abismo que ainda não conseguimos eliminar
Existe hoje um abismo visível entre a comunicação corporativa tradicional e o que realmente precisa ser feito. A forma como comunicamos ainda está presa a modelos formais, distantes, técnicos. Enquanto isso, a atenção das pessoas está em canais dinâmicos, acessíveis, pessoais.
As empresas precisam romper com esse padrão. Precisam buscar alternativas concretas e eficazes de comunicação. Precisam estar onde os colaboradores estão. E mais do que isso — precisam falar como os colaboradores falam.
E por que não os próprios profissionais de compliance utilizarem suas redes sociais para falar sobre ética e integridade de forma leve, real e acessível?
Essa simples mudança de postura potencializa o alcance, fortalece a credibilidade e amplia a capacidade de transformar comportamentos.
Mas para isso, não basta boa intenção. É preciso técnica, estratégia e conhecimento atualizado sobre como se comunicar no mundo de hoje.
Conclusão: ética não é só um tema — é uma causa a ser comunicada
Enquanto continuarmos falando entre nós mesmos, a cultura ética será sempre um ideal bonito — mas distante.
Precisamos transformar o compliance em movimento, a comunicação em ponte, e o conteúdo em conversa.
Porque só assim a mensagem sai das paredes dos comitês e ganha vida nos corredores da empresa.
Sobre o autor
Vinicius Cassimiro Carvalho: Fundador da Democratizando e da Kassy Consultoria. Especialista em Compliance, Investigação e Governança Corporativa. Palestrante e professor convidado em cursos e eventos sobre integridade e privacidade. Empreendedor apaixonado por transformar conhecimento em impacto social.
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