Comunicar é fácil — ser compreendido é raro No universo corporativo, há uma crença silenciosa de que “comunicado enviado é comunicado compreendido”. Profissionais de Governança, Riscos e Compliance sabem disso: investimos horas elaborando políticas, desenhando fluxos de reporte, atualizando normativos, enviando comunicados… Mas, na prática, a maioria das pessoas não lê, não entende ou não vê sentido naquilo que estamos comunicando. Esse descompasso entre o que é comunicado e o que é absorvido revela um problema estrutural, especialmente em um mundo regido pelo princípio ATAWADAC — Any Time, Any Where, Any Device, Any Content (Benoit & Deseilligny, 2013). O mundo mudou. A forma de consumir informação mudou. E a nossa forma de comunicar, especialmente em temas sensíveis como ética, riscos e compliance, ainda não acompanhou essa transformação. A reflexão: será que estamos sendo realmente estratégicos na forma como comunicamos? Enquanto áreas como marketing e experiência do cliente evoluíram para criar comunicações omnichannel, personalizadas e centradas no usuário, grande parte da comunicação em GRC ainda é linear, formal e reativa. No entanto, segundo Patrick Lencioni (2002), clareza organizacional é o alicerce da saúde corporativa. E clareza depende de comunicação estratégica — não apenas de documentos publicados. Mais do que nunca, é hora de assumirmos nosso seu papel como educadores institucionais, capazes de construir cultura através de mensagens que chegam, tocam e transformam. Um profissional que comunica com consciência e propósito O conceito ATAWADAC não é um jargão futurista. É um alerta para quem precisa se fazer ouvir em meio ao excesso de estímulos, informações e ruídos. A seguir, algumas ações práticas para transformar a sua comunicação corporativa: 📌 1. Diagnostique onde a mensagem se perdeEntenda os canais mais acessados, os formatos mais consumidos, os horários de maior engajamento. Trate a comunicação como um produto a ser validado com o público interno. 📌 2. Traduza conteúdo técnico em linguagem humanaCompliance não precisa ser “juridiquês”. Use metáforas, exemplos, narrativas reais. Construa pontes entre o conceito e o comportamento esperado. 📌 3. Diversifique formatos e pontos de contatoNão dependa apenas de e-mails ou manuais. Use vídeos curtos, simulações, quizzes, rodas de conversa, mensagens de voz, stickers no WhatsApp. Seja multicanal, como o próprio conceito ATAWADAC propõe. 📌 4. Crie uma narrativa contínua, não pontualUma cultura ética é construída aos poucos, com repetição e coerência. Não espere o treinamento anual para falar de integridade. Faça disso parte da rotina. 📌 5. Mensure impacto, não só alcanceMais importante do que “quantas pessoas abriram” o comunicado, é saber se elas compreenderam. Acompanhe dúvidas recebidas, feedbacks, casos de conduta e clima organizacional. Conclusão: comunicar é exercer governança Em um mundo onde todos querem atenção, a comunicação eficaz virou um diferencial competitivo — e um instrumento de integridade. Profissionais que se posicionam como bons comunicadores não apenas previnem riscos. Eles educam, inspiram e constroem cultura. O mundo já é ATAWADAC. A pergunta é: nós estamos prontos para comunicar como esse mundo exige? Sobre o autor Vinicius Cassimiro Carvalho: Fundador da Democratizando e da Kassy Consultoria. Especialista em Compliance, Investigação e Governança Corporativa. Palestrante e professor convidado em cursos e eventos sobre integridade e privacidade. Empreendedor apaixonado por transformar conhecimento em impacto social. 📩 E-mails: vinicius@kassyconsultoria.com.br ou vinicius@idemocratizando.com.br🔗 LinkedIn: linkedin.com/in/viniciuscarvalho1